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Meu Site Aos Amigos
Hoje é Domingo, dia 7 de Outubro, 3º dia em Marrocos.
Estamos a caminho de um Oasis, atravessando as montanhas Moylen Atlas.
Mas vamos começar, obviamente, do início. Isto é uma caravana.
2 jipes (camionetes todo o terreno), 12 pessoas. Pessoas muito diferentes, à
procura de aventura, de uma outra história, de pessoas diferentes.
No primeiro dia, na verdade, noite, viajamos em direção ao sul
da Espanha. Muitos solavancos, um caminho errado, paradas para comer em lugares
suspeitos e...olha, chegamos.
Estamos em Aljeciras, 7 hora da manhã, e pegamos o Ferry para Ceuta,
a cidade espanhola já em Marrocos. É incrível como no estreito
de Gibraltar a Europa e a África estão tão perto. São
imensas uma diante da outra... Bem, para quem nunca andou de ferries, como eu,
foi uma viagem de novidades. Entrar com um carro em um navio, e passar dentro
dele por vários caminhões...impressiona. Após estacionarmos
subimos até a parte dos passageiros. Esta parte é uma mistura
de interior de avião com a própria sala de espera de um vôo,
pois tem poltronas, mesas, bares, free-shops, e uma vista fantástica,
principalmente quando se chega na África.
Vamos até a fronteira de Ceuta, que é espanhola, com Marrocos.
Há uma certa apreênsão, pois imaginamos de tudo. Ninguém
deixa ninguém sair do carro, só os guias. Até conseguirmos
os vistos de entrada, quando todo mundo sai e quer trocar o dinheiro. Fronteira
passada, tchan, tchan, tchan, tchan!
Pulo o percurso inicial para falar da nossa primeira parada, a cidade de Chefchauen.
Uma cidade branca e azul. Com caminhos "ALI EL COPO-NUDO" (isso foi
uma interferência do nosso amigo do deserto Mohammed, tirou o bloco da
minha mão e escreveu isso...decidi deixar), bem, com caminhos de chão
branco, pintados mesmo, que escondem em portas antigas e ornamentadas casas,
mercados, mesquitas, banhos coletivos (que eu perdi de ir), hotéis, e
muitas outras coisas mais que a nossa imaginação pode criar.
Os restaurantes são lugares de comer... e de descanso. Sentamos em almofadas,
em mesas rodeadas de "sinais" árabes. Janelas "fechadura",
tapetes, paredes e tetos pintados e talhados com uma variedade e complexidade,
e um colorido instigante.
A comida?, São pratos infindáveis, multicoloridos, com muitos
legumes, carnes e cuscuz. Mistura-se o salgado com o doce. E sorve-se cada prato
sempre como estívessemos nos melhores restaurantes de qualquer lugar.
Talvez eu exagere, mas a comida merece.
Depois da comida, sempre um senhor chá de hortelã...ou seria menta?...sei
lá, agora me confundi! Também em Chefchauen há as montanhas.
A cidade é colada em uma cadeia de montanhas que tem a altura suficiente
para olharmos e perdermos o fôlego. E tem o povo. Mas isso eu falo depois,
assim como a arte de negociação deles.
Ao segundo dia fomos a uma cidade chamada FEZ. Foi uma visita rápida.
Algumas ruas cobertas, algumas totalmente fechadas e totalmente escuras, onde
só passam pessoas, e corre-se o risco de ser atropelado por um burro
atrolhado de coisas no dorso. "Não há automóveis,
nem motos, nem álcool, proibido pela religião muçulmana,
assim como a utilização de figuras de animais ou seres humanos
na ornamentação das casas; apenas figuras geométricas e
frases do alcorão são admitidas." Vamos a outro restaurante
que parece um palácio por dentro, e aprendo que servir um chá
é uma arte. E que como o chop do Brasil, deve fazer espuma. Também
fiz minha primeira compra-negociação! Um tapete lindo e caro que
não sei o que vou fazer com ele! Pode-se planejar uma casa que não
existe baseando-se num tapete? Ah, disseram que ele era afrodisíaco!
Hoje, outro dia, ou o dia seguinte, entramos no carro e... fomos!
Estávamos a 2 mil metros de altitude, onde neva no inverno, e fazia muito
frio e havia muito verde. Cedros. A Floresta de Cedros. Algo parecido com Gramado,
porém com macacos. Passamos a noite aí... não na mata,
mas num hotel ! Partimos na manhã seguinte...cedo.
Depois de tirar dezenas de fotos da macacada, continuamos a viagem por mais
algumas horas pelos cedros, montanhas, desertos áridos (tudo nessa ordem)
com montanhas que parecem ser as guardiãs daquele espaço infinito.
Começam as cidades cor de areia, com casas idênticas na aparência,
mas diferentes na forma, como se tivessem nascidos da própria terra.
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Agora a pouco chegamos no deserto. A sensação de Rally Dakkar
é fascinante. O por do sol no deserto é, para rimar, embriagante.
E a chegada no Albergue, bem, já quase esqueço que sou eu...
O DESERTO
Chegamos ao Deserto, o Saara. Aqui chama-se Erg-Chebby. Neste local existem
dois tipos de deserto. Um de chão plano e cheio de pedregulhos, que lembra
a superfície de Marte (vista nos filmes, é claro!) e o deserto
de Dunas.
O Albergue ficava neste deserto plano, porém de frente para o deserto
de Dunas, o que era uma presença no nosso horizonte. O Albergue é
feito de Adobe, barro e palha. Por isso a cor de areia. E há uma pequena
aldeia do lado, também assim.
Na primeira noite, embora tivéssemos nossos quartos, decidimos dormir
na cobertura/terraço do albergue, em sacos de dormir. O céu era
um tapete de estrelas, e quando veio a lua, as dunas tornaram-se visíveis
na noite. Rimos muito, acho que foi a noite. Dormimos.
Fui despertado várias vezes...pela Belinha, para ver o sol nascer...Nasceu
atrás das dunas, uma bola laranja e gigantesca, implicitamente dizendo
que fazia parte daquilo tudo... Senti vontade de chorar pela beleza do sol acima
das dunas...mas voltei a dormir. Para minutos depois o Hipólito, marido
da Maria, que dormia lindamente, me acordar para ver os dromedários.
Tentei ignorá-lo mas foi em vão. Lá fui eu ver os dromedários
passarem no outro lado do Albergue. São outros seres daquele conjunto
que se chama deserto. Andam em fila, calmamente, lentamente, sem pressa....Voltei
a dormir...Mas...a Ana, que acordou cedo, queria conversar. Eu queria dormir!
Mas eles venceram. Acordei e fui ver o que seria daquele dia.
Não sei em que momento do dia fomos visitar a aldeia Berber dali, Merzouga. Berbers
são um dos povos que vivem no Marrocos, mais nas montanhas e desertos.
Uma coisa que esqueci de falar, das vestimentas. São muito coloridas.
E sim, as mulheres se tapam muito, algumas menos (só a cabeça
de fora) e outras mais. Os homens vestem roupas típicas também.
As crianças vestem-se normalmente, e usam mochila nas costas para ir
a escola :o) E adoram quando damos balas/rebuçados, canetas ou uma moeda
pra elas.
Nesta aldeia, Merzouga, vimos uma demonstração da música deles, que
me lembrou muito a música da Bahia. Depois no caminho de volta demos
a sorte de pegar um casamento típico. A noiva estava toda envolta em
vestidos e panos vermelhos, não se via nada dela. Muitas danças
e rituais. O mais chocante foi o carneiro que eles levaram durante a procissão
do casamento para depois sacrificá-lo ao som de tambores e cantos. Muito
forte, mas mais pela excitação que vinha do canto, do que pela
execução do carneiro. Sério, eu tremia pela energia daquilo
tudo.
Depois desta experiência voltamos ao Albergue. Inventei de ir sentado
no bagageiro do jipe, em cima. Bem, quando o carro pulava minha bunda pedia
para nunca ter nascido...
Final de tarde...nos preparamos para ir passar a noite nas dunas. Iremos de
dromedário (uma corcova). O mais legal é que era um dromedário
para cada um (isso é meio óbvio, mas achei legal!). Mochila, saco
de dormir e vupt, subir no dromedário. Drod para os íntimos. O
drod vai pra trás, vai pra frente e pronto, está de pé.
Começamos a seguir em fila em direção as dunas. 3 grupos
de 4 drods. Os drods fazem um barulho horrível quando estão contrariados,
parecem uns trombones cheios de água. Mas são engraçados,
principalmente da perspectiva de quem está em cima. Eu estava no primeiro
drod do meu grupo. O segundo drod, onde estava a Xana, se apaixonou pela minha
perna cabeluda. Vinha toda a hora roçar o focinho dele nos meus pelinhos...Te
mete! Pois o esperto aqui foi para o deserto de camiseta e bermuda...
Andar nas dunas é se perder nas dunas. É olhar para todos os lados
e ver só dunas. É sentir-se pequeno e ao mesmo tempo expansivo.
É sossegado...É incrível.
A TEMPESTADE
Uns 30 minutos depois que entramos nas dunas de Erg Chebbi, o drod da Patrícia,
que estava no segundo grupo, decidiu se rebelar e derrubou ela de cima. O problema
é que ele caiu também. Como eu estava longe, e era o único
que conseguia ver tudo do meu grupo, exclamei: "Xiiii, o dromedário
da Patrícia morreu!" Juro, ele estava completamente inerte. Até
que...ressuscitou. Mexeu uma parte aqui, outra ali, reclamou bastante e pronto,
estava vivo. E a Patrícia voltou a montar nele...que coragem!
Como se não bastasse este susto, logo em seguida começou uma Tempestade
de Areia. Um vento forte que levanta a areia das dunas e tranforma a claridade
em escuridão. E aqueles milhares de grãos de terra vão
de encontro a nossa pele e arde muito. Neste momento cada um de nós ficou
realmente sozinho...O mundo pareceu desaparecer a nossa volta e só escutamos
o vento forte, mais nada. A sorte é que a seguir começou a chover
(Sim, choveu no deserto!), e a chuva diminuiu a areia do ar. A partir daí
escureceu num instante. E parabéns para os guias berbers que conseguem
chegar ao oasis até na noite, porque, gente, não se via nada!
Chegamos no Oasis e para a nossa surpresa as tendas onde iriamos nos aquecer
estavam no chão! Imaginem a minha cara, ou melhor, a nossa cara! Eu estava
gelado, batendo os dentes! A sorte é que começamos a nos juntar,
assim, tipo hamsters, e isso aqueceu um pouco. E começamos a contar piadas.
Rimos muito e quando vimos as tendas estavam arrumadas. Nos secamos, jantamos,
nos aquecemos em volta da lareira e dormimos. Por incrivel que pareça
dormi muito bem.
Na manhã seguinte voltamos numa viagem BEM mais calma para o Albergue.
O drod da Xana realmente estava apaixonado pela minha perna.
O que posso dizer também é que depois de ter andado em cima do
jipe, e de ter andado quatro horas e meia em cima do Dromedário, a minha
bunda me desertou. Passei dois dias sentando somente em almofadas...
O último dia no deserto foi de descanso e para esquecer o susto. No final
das contas a tempestado foi um dos momentos que mais marcou a todos, para o
positivo.
Ainda conseguimos subir no dia seguinte na duna mais alta para ver o põr-do-sol.
Realmente todos os por-do-sol são diferentes! E o deserto deixa marcas
muito profundas a quem vai lá. É quase o mesmo efeito que o mar,
a diferença é que o mar tem movimento, se agita. O deserto está
lá, inerte, imponente, gigante. É como um amigo que diz muito,
mas em silêncio. E nos muda para o resto da vida.
Agora só uma piadinha de minha autoria dita na última
noite dormindo no terraço do Albergue.
"Sabem por que não há cachorros no deserto? Porque não
há arvores para eles mijarem!"
Hehehehe!
De manhã cedo partimos para as Gargantas de Todra e
as ruinas da cidade de Arit-Benhaddou. Mas isso eu conto depois...
AS MULHERES DE UM OLHO SÓ - ÚLTIMA PARTE
Tenho de confessar...estou de volta...à cidade.
O deserto agora é uma válvula de escape. É aquele lugar,
aquela lembrança que vou quando quero descansar. E funciona...
Mas vamos a continuação do que aconteceu, enquanto ainda são fatos exatos em minha memória.
Saímos do deserto. De certo modo sabíamos que
estávamos deixando para trás um dos grandes momentos da viagem,
senão o melhor momento.
Foi muita viagem atráves da janela do carro, quase o dia inteiro. Paramos
num posto e lá havia uma loja só de fósseis. Não,
não eram pessoas! Aquela região do Marrocos é cheia de
fósseis, mas são de animais em forma de caracol ou bastões.
Bem fósseis mesmo! O interessante é que estes animais cristalizaram
na pedra, e a pedra ao redor deles é negra, o que dá um efeito
bem bonito. E os marroquinos fazem até mesas dessas pedras. Mas era tudo
muito caro, muito turístico...bye, bye fósseis...Sou mais os dois
que comprei do meu guia Barak no deserto...pequenos, mas legais...
Passamos por outra pequena cidade...prédios muito precários, sem
muita cor, onde não se diferencia uma oficina de um açougue...mas
o que mais me chamou atenção, o que mais me aterrorizou (e aterrorizou
mesmo!) foram as mulheres de um olho só! Sério, mulheres toda
vestidas de preto, onde um olho era a única parte do corpo que ficava
à vista. Um único olho! E quando a gente olhava para uma delas,
e elas viam que estávamos olhando, aquele único olho seguia a
gente, nada mais se movia, apenas o olho...Argh!!! Que horror!
Seguimos viagem...mais estrada...chegamos às Gargantas de Todra. É
um vale muito estreito, com penhascos muito altos, onde passa um rio raso e
de águas bem cristalinas. A cor é a mesma, um alaranjado mais
claro. Do carro não conseguiamos ver o topo dos penhascos. Começam
a aparecer carros de corrida, ou de rally...muitos carros, estacionados. E todos
ingleses. No centro do vale, em uma parte mais larga, há um hotel e um
restaurante. Os ingleses estão todos lá...No deserto era tão
tranquilo...Ali almoçamos, tiramos algumas fotos e continuamos a viagem.
Mas, antes que eu continue, é bom falar de uma menina que estava numa
gruta que havia ali, cuidando de seus burros. Seu nome era Mina. Ela devia ter
dez ou onze anos, morena de olhos verdes. Mas era dona daquilo tudo. Quero dizer,
a única coisa que ela fazia era cobrar pelas fotos que tirávamos
dos burros ou dela, mas parecia que ela estava cobrando por estarmos ali, tal
era a segurança que ela mostrava e sua fisionomia marcante...
Carro de novo. Fomos por uma estrada sem-fim, daquelas que olhamos pra frente
e vemos ela desaparecer no horizonte. Nos dois lados passavam pelas janelas
dos carros mais desertos áridos com montanhas ao fundo. De vez em quando
a paisagem mudava, o chão tornava-se irregular e tranformava-se em mini
canyons.
Chegamos numa cidadezinha chamada Ait-Benhaddou. Chegamos no hotel..até
aí não parecia nada demais. Pensei que era um local só
para passarmos a noite...quero dizer, no fundo sabia que haveria uma surpresa,
mas não sabia o que era. Colocamos as coisas nos quartos e fomos para
um terraço que havia lá...FANTÁSTICO! Dali daquele terraço
podíamos ver o Kasbah de Ait-Benhaddou. Uma cidade composta de várias
fortalezas menores, em alturas diferentes, pois está na encosta de uma
montanha. Mas toda de frente para a gente!
É um labirinto lá dentro...caminha-se por corredores e quando
vemos estamos dentro das casas, ou de quintais, ou numa rua diferente, uma rua
mais embaixo, outra ao lado, logo acima...Teve um momento em que entramos num
quintal de uma casa, sem se dar conta, mas que era caminho para outra rua, e
um sujeito quis nos cobrar taxa por passar por ali...Absurdo..É óbvio
que não pagamos!
Mas é incrível caminhar por dentro desta cidade esquecida no tempo...são
prédios consideravelmente altos, alguns incrivelmente ornamentados. E
há algumas pessoas morando lá ainda, pois ás vezes saia
uma voz de uma porta, onde só se via escuro lá dentro, convidando
para tomar um chá...pensam que aceitamos?
No dia seguinte tínhamos a manhã livre...fomos nós lá
passear pelo Kasbah e comprar algumas coisinhas...eu ainda devo a explicação
da arte da negociação, não é? Bem, vamos lá.
A ARTE DA NEGOCIAÇÃO
Em Marrocos nada tem seu preço...eu disse Nada. Em qualquer
loja temos de perguntar o preço da mercadoria, ao que o vendedor vai
dar um preço absurdo. Aí que o interessado tem de usar todo o
seu poder de dissimulação, sua veia de ator e, no meu caso, sua
vocação para pão-duro, para conseguir baixar o preço
para 1/3 ou menos.
Para se ter uma idéia, eu comprei uma caixinha de prata ornamentada com
figuras por 20 dólares, quando o vendedor queria 65 dólares por
ela. Mas é assim, ele pediu 65 e eu, escandalizado, ofereci 7! Era o
preço que eu achava justo, ora!!! Assim, só no dia seguinte, eu
fui subindo o preço, ele descendo e pronto, chegamos a um denominador
comum. Mas a verdade é que mesmo pagando um preço pequeno, saimos
sempre com a sensação de que podíamos ter pago menos...
E vicia...acaba por se tornar um jogo. Queremos sempre ver o quanto conseguimos
baixar um preço de uma mercadoria...eu adorei esse jogo. Cheguei ao cúmulo
de numa mercearia querer barganhar o preço de uma latinha de Diet Coke...mas
era exagero.
E, embora cada um tenha sua loja, eles funcionam meio que em conjunto. Se falta
uma mercadoria, eles a buscam na loja ao lado. O vendedor da outra loja entra
na discussão...se a barganha demora muito, já te oferecem um chá...e
o mais estranho é que quanto mais baixamos o preço e mais discutimos,
mais simpátia eles ganham pela gente. E depois fica tudo amigo.
JÁ ESTAMOS PRA LÁ DE MARRAKESH
Ou pra cá...Saimos de Ait-Benhaddou um pouquinho atrasados...e
eu deixei minha querida sandalinha lá! (até fiz uma música
pra ela, vide Manu Chao). No caminho atravessamos a cadeia montanhosa de Moylen-Atlas,
que separa a Africa dos desertos da África das Matas e Florestas. No
inverno há muita neve nestas montanhas..(imaginem, perto do deserto)...chegamos
a altitude de 2.500 metros com o carro. Paramos numa vila muito pequenina para
almoçarmos...a carne que comemos estava exposta na frente do bar, ao
ar livre...algo emocionante.
Ok, mais viagem e chegamos a Marrakesh...a música do Caetano não
saia da minha cabeça....
Depois de termos passado dias tão sossegados e selvagens nas cidades
em que estivemos, Marrakesh foi, literalmente, um choque! É a mistura
de tudo. Nas ruas estão bicicletas, carros, caminhões, motos,
carroças, pessoas, burros, tudo indo para e vindo de todas as direções...ao
mesmo tempo! É um caos!
A frase que mais usávamos era..."Quero voltar pro deserto!"
E a cidade, a princípio, não é nada bonita. Passamos de
carro por uma praça, a famosa Al-Fna, onde se vê de tudo, desde
encantadores de serpentes a malabaristas de 10ª categoria. Eu só
gritava: "Ele tem uma cobra na mão! Ele tem uma cobra na mão!"
Acho que gritar isso não me caiu muito bem...
Chegamos ao hotel. Eu fui o "the Flash" para chegar no quarto pois
precisava estrear a casa-de-banho/banheiro.
Saimos para passear por Marrakesh...Descobri que na praça de Al-Fna qualquer
um que tenha cara-de-pau suficiente pode fazer qualquer espetáculo lá...nem
que seja pular com uma perna só...há um público local para
aplaudir e sempre uns turistas bobões que dão algumas moedas por
aquilo. Tinha um jogo parecido com pescaria, mas era para colocar uma argola,
que estava presa a uma corda numa vara, no bico de uma garrafa...nada fácil...tivemos
que literalmente arrancar o nosso amigo António de lá, pois ele
disse que sabia de uma técnica para enfiar a argola na garrafa...parece
que a técnica dele não funciona muito bem em terras Marroquinas....
Janta-se também nessa praça. Há barracas onde eles cozinham
vários pratos e fica tudo a mostra. Senta-se em mesas colocadas em volta
e vai-se pedindo os pratos. Olha, é bem legal!
E tem, finalmente, o mercado. Um conglomerado gigantesco, outro labirinto, que
tem milhares de lojas e lojinhas dentro, e onde se encontra de tudo. E de onde
a turma não arredou o pé.
Sabiam que me casei em Marrakesh? Bem, pelo menos é isso o que se fala.
Tudo esclarecido, os fatos foram estes. Estávamos eu, a Patrícia
e a Ester caminhando nas ruelas de Marrakesh, depois de ter visitado um palácio,
quando encontramos a Xana, a Belinha e a Gri. Estava eu e TODAS as mulheres
do nosso grupo. Ah, faltava a Maria, mas ela estava com o seu marido, pá!
E queríamos ir para um lugar chamado "Al Menara", que ficava
no outro lado da cidade. Decidimos ir de charrete. As meninas foram todas nos
lugares dos passageiros e eu fui na frente, com o charreteiro. Ele tentou ir
pelos jardins do palácio, mas estes estavam interrompidos para charretes
com 6 mulheres e um abobado. Então ele teve de dar a volta na cidade.
Essa volta levou mais de UMA hora. Então, enquanto as meninas discutiam
sobre a possibilidade de elas estarem sendo levadas para um lugar distante para
serem vendidas, eu tinha de ficar conversando com o charreteiro, o Mohammed,
em francês. Ora, eu ARRANHO em francês. E ele falava, e falava,
e nós dois riamos muito...ele me explicava o porque disso, o porque daquilo,
eu não entendia a metade...as meninas achando que eu tinha conseguido
um bom preço por elas, já estavam nervosas...Bem, quando ele nos
deixou no hotel, depois da visita ao Menara, tiramos uma foto juntos e ele deu-me
o endereço dele e perguntou se podia me pegar na manhã seguinte....??????????...
Infelizmente partíamos cedo na manhã seguinte. Puxa, meu casamento
falhou! Oh, Mohammed, Mon Amour!
Conclui que Marrakesh, embora pareça, quero dizer,
seja um CAOS, é um CAOS organizado. Tudo funciona com harmonia, e tudo
está interligado. Caso contrário, a cidade parava, ou entupia.
E não é tão feia assim. As ruas muito estreitas tem seu
charme. Encontra-se caminhando por elas portas belíssimas e a cidade
é cheia de jardins enormes e muito bem cuidados.
De Marrakesh fomos para o nosso último destino, Asilah. Uma cidade encantadora
beirando o oceano atlântico. Toda branca, parecia toda feita de gesso.
Há tempos pertenceu a Portugal. Lá eu vi as cores de um por-do-sol
mais lindas que jamais vi. E lá começamos a ficar tristes pelo
fim da viagem....
...que, no dia seguinte, acabou. Felizmente ficou a amizade e continuamos todos
nos encontrando até hoje.
Sobre a experiência da viagem, bem, parece que cada um de nós trouxe
Marrocos no coração, e naqueles momentos em que queremos sumir,
fugir, desaparecer, é lá que nos refugiamos. Pois foi o local
mais calmo e cheio de paz que, pelo menos eu, já estive.
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